Joaquim Câmara Ferreira

Joaquim Câmara Ferreira
Joaquim Câmara Ferreira
Nascimento 5 de setembro de 1913
São Paulo, Brasil
Morte 23 de outubro de 1970 (57 anos)
São Paulo, Brasil
Nacionalidade Brasil brasileiro
Ocupação guerrilheiro, jornalista

Joaquim Câmara Ferreira (Jaboticabal - São Paulo, 5 de setembro de 1913 - São Paulo, 23 de outubro de 1970), também conhecido como "Comandante Toledo", foi um militante e dirigente comunista brasileiro, integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Comandante Ação Libertadora Nacional (ALN), atuou na luta armada contra a ditadura militar brasileira, instalada no país em 1964.

Neste período do regime militar, tornou-se mais conhecido por ser um dos comandantes do sequestro e cárcere privado do embaixador norte-americano no Brasil, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969. Foi torturado e morto em 20 de outubro de 1970 pela equipe do Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), chefiada pelo delegado Sérgio Fleury.

Carreira Política

Câmara entrou para o PCB (Partido Comunista do Brasil) em 1933, aos 20 anos e, por exercer a profissão de jornalista, dirigiu jornais do Partido, como o "Hoje". Além disso, também foi tradutor da France Press.[1] Em 1937, entrou na clandestinidade depois do golpe do governo Getúlio Vargas. Preso durante o Estado Novo, passou a ser conhecido por não ter unhas nas mãos, por conta das torturas sofridas.[2]

Com o restabelecimento da democracia no país, em 1946, elegeu-se vereador em Jaboticabal, cidade localizada no interior de São Paulo, mas com a cassação do registro do PCB no ano seguinte, perdeu o mandato. Na clandestinidade, em 1948 viajou para a União Soviética para se aprofundar no estudo de políticas marxistas.

Em 1964 foi preso depois de proferir palestra para operários em São Bernardo do Campo, sendo solto pouco tempo depois, quando voltou à clandestinidade, sendo condenado à revelia a dois anos de prisão. Em 1967, junto com Carlos Marighella, deixou o PCB por discordar da linha de ação pacífica do Partido e ambos fundaram a Ação Libertadora Nacional, organização de militantes destinada a combater a ditadura militar de armas na mão. Nos anos que se passaram, foi preso e torturado pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Como métodos de torturas foram usados pau de arara, palmatória, afogamentos e farpas de bambu embaixo das unhas.[3]

Por estar vivendo na clandestinidade, usou, neste período os codinomes "Toledo" e 'Velho'.[4] Em setembro de 1969, atuou como comandante político do sequestro do embaixador Elbrick, que levou a libertação de quinze presos políticos, realizado no Rio de Janeiro, estrategicamente na Semana da Pátria.[1]

Fugiu para o exterior no mesmo momento em que as forças de segurança procuravam os sequestradores, busca que culminou na morte de Marighella, seu braço direito. Em novembro do mesmo ano, voltou ao Brasil via Cuba - momento no qual concedeu entrevista à Rádio Havana, dissertando sobre os princípios revolucionários de Marighella para assumir o comando geral da ALN,[2] maior organização da esquerda armada do Brasil, dando continuidade à reestruturação do grupo e recebendo os guerrilheiros que ainda estavam em Cuba para, juntos, implantarem uma guerrilha rural rumo à uma ditadura revolucionária comunista, pautado na experiência cubana e chinesa.

O jornalista Juca Kfouri, que conheceu Câmara, falou que não estaria vivo se ele não o tivesse liberado de um compromisso.[3]

Provavelmente não estaria vivo se Joaquim Câmara Ferreira não tivesse me liberado de um compromisso[3]

Kfouri pretendia entrar no CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), no qual se alistou como voluntário na arma da Infantaria para "aprender a ser guerrilheiro". O jornalista disse que foi Câmara que o aconselhou a não seguir esse caminho (Juca era motorista e às vezes levava mantimentos para o esconderijo do militante). Segundo Juca, Ferreira disse que ele "não deveria querer resolver os problemas dos outros antes de resolver os seus". Juca acredita que Joaquim sabia que a Ação Libertadora Nacional estava por um fim e não compensaria sacrificar outro jovem. "E aqui estou. Unido às homenagens que serão prestadas a este grande brasileiro por quem tenho eterna gratidão", revelou Juca Kfouri.[3]

Morte

Preso na noite de 23 de outubro de 1970, na avenida Lavandisca, no bairro de Indianopolis, na capital paulistana, pela equipe do delegado Sérgio Fleury, foi levado a um sítio, chamado "31 de março".[3] No local, que ficava nas proximidades da cidade, foi torturado e acabou não resistindo às condições que foi submetido. Joaquim foi enterrado pela família no Cemitério da Consolação, em São Paulo.[2] Em sua homenagem, seu nome hoje batiza ruas e avenidas em São Paulo, Recife e Rio de Janeiro.[5]

Maria de Lourdes Rego Melo, presa política, é testemunha de que Joaquim Câmara Ferreira estava vivo quando foi preso e que morreu em decorrência das torturas sofridas.[3]

Honrarias post mortem

Joaquim Câmara Ferreira foi anistiado em outubro de 2010, durante evento da Caravana da Anistia, realizado no antigo prédio do DOPS-SP (Departamento de Ordem Política e Social), hoje transformado em Memorial da Resistência. A Comissão de Anistia o declarou como "o jornalista e combatente herói do povo brasileiro".[6] A Câmara de Vereadores de São Paulo também se pronunciou, concedendo ao militante o título de cidadão paulistano "in memoriam".

Câmara deixou dois filhos, Denise Fraenkel-Kose e Roberto Cardieri Câmara Ferreira, que receberam o "Diploma de Gratidão" e a "Medalha Anchieta" em nome do pai.

Na cultura popular

Ver também

Ligações externas

  • Comandante Toledo, presente! Agora e sempre!
  • O revolucionário da Convicção: Joaquim Câmara Ferreira, o Velho Zinho

Referências

  1. a b «Joaquim Câmara Ferreira – Comandante Toledo: 40 anos do seu assassinato». Fundação Mauricio Grabois. Consultado em 25 de junho de 2011. Arquivado do original em 28 de dezembro de 2010 
  2. a b c «Joaquim Câmara Ferreira». Grupo Tortura Nunca Mais. Consultado em 25 de junho de 2011. Arquivado do original em 21 de outubro de 2011 
  3. a b c d e f «Joaquim Câmara Ferreira». Memórias da ditadura. Consultado em 10 de outubro de 2019 
  4. «Joaquim Câmara Ferreira». Centro de Documentação Eremias Delizoicov. Consultado em 25 de junho de 2011 
  5. «Links10». Consultado em 25 de junho de 2011 [ligação inativa]
  6. «Comandante Toledo, presente! Agora e sempre!» (PDF) 
  • v
  • d
  • e
Integrantes da luta armada contra a ditadura militar no Brasil (1964–1985)
Aderval CoqueiroAdriano Fonseca FilhoAlex de Paula Xavier PereiraAlexandre Vannucchi LemeAlfredo SirkisAloysio NunesAluísio PalhanoAna KucinskiAna Maria Nacinovic CorreaAndré GraboisÂngelo ArroyoAntonio BenetazzoAntônio Carlos Bicalho LanaAntônio Marcos Pinto de OliveiraAntônio Raymundo LucenaAntonio Roberto EspinosaArnaldo Cardoso RochaArno PreisAurora Maria Nascimento FurtadoBergson Gurjão FariasBoanerges de Souza MassaCarlos Alberto Soares de FreitasCarlos Eduardo Pires FleuryCarlos Eugênio PazCarlos AraújoCarlos LamarcaCarlos MarighellaCarlos MincCarlos Nicolau DanielliCarlos Roberto ZaniratoCésar BenjaminChael Charles SchreierCid BenjaminCiro Flávio de OliveiraCláudio TorresCrimeia Schmidt de AlmeidaDaniel Aarão ReisDaniel José de CarvalhoDarcy RodriguesDênis CasemiroDevanir José de CarvalhoDilma RousseffDinaelza CoqueiroDinalva Oliveira TeixeiraDulce MaiaÉdson Neves QuaresmaEduardo Collen LeiteEleonora MenicucciElza MonneratEnrique Ernesto RuggiaFernando GabeiraFernando PimentelFlávio MolinaFlávio TavaresFrancisco Emanuel PenteadoFrancisco OkamaFranklin MartinsFrederico MayrGelson ReicherGilberto Olímpio MariaGlênio SáHelenira ResendeHeleny GuaribaHerbert DanielHiroaki TorigoeIara IavelbergInês Etienne RomeuIshiro NagamiÍsis Dias de OliveiraIssami OkanoJaime Petit da SilvaJames Allen da LuzJana Moroni BarrosoJane VaniniJefferson Cardim OsórioJeová Assis GomesJoão AmazonasJoão Antônio Abi-EçabJoão Carlos Haas SobrinhoJoão Leonardo Rocha • Joaquim Câmara Ferreira • Joel José de CarvalhoJoelson CrispimJosé GenoinoJosé LavecchiaJosé Milton BarbosaJosé Roberto SpignerJosé Wilson SabbagJuarez Guimarães de BritoLadislau DowborLíbero CastigliaLígia Maria Salgado NóbregaLiszt VieiraLúcia Maria de SouzaLúcia MuratLúcio Petit da SilvaLuiz Almeida AraújoLuiza GarlippeLuzia ReisMassafumi YoshinagaManoel CyrilloManoel NurchisManuel LisboaMárcio BeckMarco Antônio Brás de CarvalhoMarcos Nonato da FonsecaMaria Amélia de Almeida TelesMaria Augusta ThomazMaria Auxiliadora Lara BarcelosMaria do Carmo BritoMaria Lúcia PetitMaria Regina Lobo Leite FigueiredoMaurício GraboisMicheas Gomes de AlmeidaOnofre PintoOrlando MomenteOsvaldãoPaulo de Tarso CelestinoPaulo de Tarso VenceslauPedro Alexandrino de Oliveira FilhoRaimundo Gonçalves FigueiredoRenata Ferraz GuerraRoberto CiettoSoledad ViedmaSônia LafozSônia de Moraes AngelStuart Angel JonesSuely KanayamaVera Sílvia MagalhãesVirgílio Gomes da SilvaVitor Carlos RamosWânio José de MattosYoshitane FujimoriZoé Lucas de Brito Filho
  • v
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  • e
Atividade paramilitar durante a ditadura militar no Brasil (1964 – 1985)
Conflitos armados
Incidentes
Grupos paramilitares
Principais guerrilheiros
Os crimes políticos e eleitorais cometidos entre 1961 e 1979 foram anistiados pela Lei 6.683/79
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