Coruja de Atena

A moeda de prata tetradracma, exposta no Museu de Belas Artes de Lião, mostra a coruja de Atena (c. 480–420 a.C.). O símbolo "ΑΘΕ" é uma abreviatura de ΑΘΗΝΑΙΩΝ, que pode ser traduzido como "dos atenienses". No uso diário, os dracmas atenienses eram chamados de glaukes (γλαῦκες, corujas).

Na mitologia grega, o mocho-galego (Athene noctua) tradicionalmente representa ou acompanha Atena, a deusa virgem da sabedoria, ou Minerva, sua encarnação sincrética na mitologia romana.[1] Devido a esta associação, a ave muitas vezes referida como a "coruja de Atena" ou "coruja de Minerva" — tem sido utilizada como um símbolo do conhecimento, sabedoria, perspicácia e erudição em todo o mundo ocidental.[2][3]

Antiguidade Clássica

Grécia

Atena a segurar um capacete e uma lança, acompanhada por uma coruja. Atribuída ao Pintor de Brigos (c. 490–480 a.C.). Museu Metropolitano de Arte.

As razões por trás da associação de Atena e da coruja perderam-se no tempo. Alguns mitógrafos, como David Kinsley e Martin P. Nilsson sugerem que ela possa descender da deusa do palácio minoico, associado com aves,[4][5] e Marija Gimbutas afirma que Atena originou-se como a deusa-serpente e pássaro na Europa Antiga.[6][7]

Por outro lado, Cynthia Berger teoriza sobre o apelo de algumas características das corujas, tais como a sua capacidade de enxergar no escuro, utilizada como símbolo da sabedoria,[2] enquanto outros, como William Geoffrey Arnott, propõe uma simples associação entre mitos fundadores de Atenas e o número significativo de mocho-galegos na região (um facto observado desde a antiguidade por Aristófanes em As Aves e Lisístrata).[8]

Em qualquer caso, a cidade de Atenas parece ter adoptado a coruja como prova de fidelidade à sua deusa padroeira,[8][9] que de acordo com um popular mito etiológico reproduzido no frontão oeste de Partenon, garantiu o benefício dos seus cidadãos, proporcionando-lhes uma dádiva mais atraente do que Posídon.[10]

As corujas eram comummente produzidas por atenienses em vasos, ponderações e ânforas, que eram entregues como prémios nas Panateneias.[8] A coruja de Atena chegou a tornar-se o anverso comum das tetradracmas atenienses, após 510 a.C., e de acordo com Filocoro,[11] a tetradracma ateniense era conhecida como glaux (γλαύξ, coruja pequena)[12] durante a Idade Antiga, e "coruja" na numismática actual.[13][14] No entanto, elas não foram exclusivamente utilizadas por eles para representar Atena, e também foram utilizadas como motivação durante as batalhas de outras cidades gregas, como a vitória de Agátocles de Siracusa sobre os cartaginenses em 310 a.C., onde as corujas que voaram em fileiras, foram interpretadas como a bênção de Atena,[2] ou na Batalha de Salamina, registada na biografia de Temístocles, escrita por Plutarco.[15]

Roma

A associação entre a coruja e a deusa continuou através de Minerva na mitologia romana, embora esta última por vezes adopte o animal como uma ave sagrada ou favorita. Por exemplo, em Metamorfoses de Ovídio, Coronis o corvo reclama que seu lugar como ave sagrada da deusa é ocupado por uma coruja, que nessa história em particular acaba por ser Nyctimene, a filha do amaldiçoado Epopeu, rei de Lesbos.[16]

No folclore romano antigo, as corujas eram consideradas arautos da morte, e quando pousavam num telhado e colocavam uma de suas penas perto de alguém a dormir, a ave poderia pedir para a pessoa falar e revelar seus segredos.[1]

Como uma metáfora filosófica

A coruja de Minerva empoleirada no livro, era a insígnia original dos Illuminati da Baviera.

O filósofo idealista do século XIX, Georg Wilhelm Friedrich Hegel notou de forma célebre que "a coruja de Minerva abre suas asas somente com o início do crepúsculo", o que significa que a filosofia passa a compreender a condição histórica, da mesma forma que passa longe.[17] A filosofia não pode ser prescritiva, porque entende apenas em retrospectiva.

Filosofia, como o pensamento do mundo, não aparecerá até a realidade concluir o seu processo formativo, e finalizá-lo. Esta história corrobora o ensino da concepção, que apenas na maturidade da realidade é que faz o ideal aparecer como contrapartida para o real, de forma a compreender o mundo real em sua substância, e moldá-lo num reino intelectual. Quando a filosofia pinta sua cinza em cinza, uma forma de vida torna-se velha, e por meio da cinza não pode ser rejuvenescida, mas apenas conhecida. A coruja de Minerva levanta o seu voo apenas quando as sombras da noite estão a se reunir.

—  G.W.F. Hegel, Princípios da Filosofia do Direito (1820), "Prefácio"

Ver também

Notas e referências

  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Owl of Athena», especificamente desta versão.
  1. a b Eason, Cassandra (2008). Fabulous Creatures, Mythical Monsters, and Animal Power Symbols: A Handbook (em inglês). Minerva, a deusa romana da sabedoria, possui a coruja como sua criatura sagrada, assim como fez Atena, sua antiga homóloga grega. Atena foi muitas vezes representada com uma coruja, cuja esta é considerada um símbolo da sabedoria em ambas as culturas. A imagem mais conhecida da coruja de Atena, o mocho-galego, é vista em moedas atenienses antigas que datam do século V, AEC. Para os romanos, uma pena de coruja colocada perto duma pessoa a dormir, poderia fazê-la falar e revelar seus segredos, enquanto dormia. No entanto, em Roma, a coruja era considerada um prenúncio da morte, se estivesse empoleirada num telhado ou num edifício público a piar. As mortes de vários imperadores romanos, incluindo o assassinato de Júlio César, foram assinaladas por uma aterragem e pio duma coruja. Westport: Greenwood Publishing Group. 71 páginas. ISBN 9780275994259 
  2. a b c Berger, Cynthia (2005). Owls (em inglês). Mechanicsburg: Stackpole Books. p. X. ISBN 9780811732130 
  3. Susan J. Deacy, Alexandra Villing (2001). Athena in the Classical World (em inglês). Leida: Editora Brill. ISBN 978-9004121423 
  4. Kinsley, David (1989). The goddesses' mirror: visions of the divine from East and West (em inglês). Albany: State University of New York Press. p. 141. ISBN 9781438409139 
  5. Nilsson, Martin Persson (1950). «The Minoan-Mycenaean religion and its survival in Greek religion». Biblo & Tannen Publishers. Acta Regiae Societatis Humaniorum Litterarum Lundensis (em inglês). 9: 491. ISSN 0347-5123. Consultado em 19 de maio de 2013 
  6. Gimbutas, Marija (1982). The Goddesses and Gods of Old Europe, 6500-3500 B.C.: Myths and Cult Images (em inglês) 2 ed. Berkeley: University of California Press. p. 147–150. ISBN 9780520253988 
  7. Gimbutas, Marija (2001). Mirijam Robbins Dexter, ed. The living goddesses (em inglês). Berkeley: University of California Press. p. 157–158. ISBN 9780520927094 
  8. a b c Arnott, William Geoffrey (2007). Birds in the Ancient World from A to Z (em inglês). Londres: Routledge. p. 84–85. ISBN 9780415238519 
  9. Sacks, David (1995). Oswyn Murray, ed. A dictionary of the ancient Greek world (em inglês). Oxford: Oxford University Press. p. 41. ISBN 9780195112061 
  10. Palagia, Olga (1998). «The Pediments of the Parthenon». Editora Brill. Monumenta Graeca et Romana (em inglês). 7: 40. ISSN 0169-8850 
  11. Filocoro: Escólio a Aristófanes, As Aves 1106.
  12. Thompson, D'Arcy Wentworth (1895). A glossary of Greek birds (em inglês). Oxford: Clarendon Press. p. 45-46 
  13. Harding, Philip (2007). The story of Athens: The Fragments of the Local Chronicles of Attika (em inglês). [S.l.]: Routledge. 272 páginas. ISBN 978-0415338080 
  14. Kraay, C.M. The archaic owls of Athens: classification and chronology.
  15. John Rich, Graham Shipley, ed. (2012). War and Society in the Greek World (em inglês). Londres: Routledge. ISBN 9781134807833 
  16. Anderson, William Scovil (1998). Ovid's Metamorphoses, Books 1-5 (em inglês). Tulsa: University of Oklahoma Press. p. 301. ISBN 9780806128948 
  17. Smith, John E. (30 de outubro de 2009). «When Dusk Is Only Dusk». The New York Times (em inglês). A afirmação de Hegel, no entanto, não dá nenhuma importância especial numa fase de fechamento; em vez disso, ela refere-se ao fim duma época, que se confirma como tal pelo aparecimento da avaliação e crítica filosófica que envolve, tornando explícitas as ideias e crenças que conduziram aquela era, mas que não podiam ser plenamente articuladas até que terminassem. 
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